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Paulo Afonso,29/04/2025

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"Zé Ivaldo, a gente nasceu pra fazer política"

Gilmar Teixeira
Foto: Gilmar Teixeira

Desde os corredores agitados do velho colégio, eu já sabia: tinha gente ali que carregava a política no sangue. Não a política pequena, de interesses mesquinhos, mas aquela verdadeira, de sonhos grandes e coragem infinita. Foi ali que conheci Zé Ivaldo, ainda jovem, já gigante.


Ele, junto com seu irmão Zé Ivandro, liderava as passeatas, os protestos, as esperanças. Era tempo de chumbo no Brasil — a ditadura militar apertava o pescoço da gente, mas em Paulo Afonso, mesmo com o medo rondando as esquinas, a chama da liberdade brilhava nos olhos da nossa turma. Quantas vezes não corremos da repressão, quantas vezes não sentimos a sola do sapato queimando no asfalto quente das fugas? Uma vez, depois de vaiarmos o todo-poderoso governador ACM na inauguração do BANEB, quase fomos presos. A sorte — ou talvez a coragem dos bons — nos levou até a casa do vereador João de Brito, na Libanesa. Graças a ele, escapamos das garras da ditadura naquela tarde que nunca mais esqueci.


No meio daquela juventude rebelde, Zé Ivaldo era diferente. Não apenas gritava palavras de ordem: ele pensava, discursava como um estadista, sonhava com uma cidade melhor. E não tardou para que Paulo Afonso, finalmente livre das amarras militares, reconhecesse nele um líder. Na primeira eleição direta depois da ditadura, Zé Ivaldo foi eleito prefeito. A cidade virou festa — bandeiras tremulavam, abraços se multiplicavam, e, por um momento, a esperança parecia mais forte que qualquer obstáculo.


Mas governar uma cidade sem verbas, sem apoio do Estado, era como remar contra a correnteza. Zé Ivaldo não recuou. Se o poder não lhe dava as ferramentas, ele as criava. Fez mutirões com a própria população, arregaçou as mangas, convocou trabalhadores, repatriou talentos como Diomário Pereira, que até então vivia exilado político. De mãos dadas com o povo, fez estradas, abriu açudes, construiu sonhos.


Se foi criticado? Muito. Os que vieram depois tentaram apagar sua história, como quem apaga rabiscos na areia. Mas algumas marcas são profundas demais para o tempo varrer. Zé Ivaldo não apenas governou: deixou uma herança. Foi ele quem batalhou e conseguiu que cidades com hidrelétricas em seus territórios recebessem royalties — verbas milionárias que hoje sustentam orçamentos inteiros.


Depois, continuou sua trajetória: vereador atuante, advogado dos pobres, professor de direito. Nunca abandonou os ideais que carregava desde os tempos das ruas. Nunca se vendeu, nunca se curvou. Saiu da política mais pobre do que entrou — um feito tão raro hoje em dia que beira o milagre.


Zé Ivaldo nos ensinou que a política verdadeira não se faz com favores, nem com riqueza. Faz-se com dignidade, honestidade, coragem. Ele nos lembrou que prefeito é gerente da cidade, e não seu dono.


Hoje, quando olho para trás e lembro das perseguições, das fugas, das vitórias e das derrotas, só consigo pensar numa frase:

"Zé Ivaldo, a gente nasceu pra fazer política."

E, se for pra fazer assim, com essa grandeza, eu nasceria tudo outra vez.


* Gilmar Teixeira




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